Buchecha quer paz. E nessa pegada, lançou uma canção que até destoa um pouco do seu estilo bem-humorado, pra cima. Em “Canto de paz”, ele fala de violência, racismo e o clima de ódio generalizado que parece estar instalado em todos os lugares. Neste Papo Reto, ele conta como lida com os haters e do racismo estrutural que assola o país e o mundo.

Qual foi a pegada de “Canto de paz”?

Uma pegada do funk de São Paulo, mas com meu jeito de encaixar as palavras e fazer linhas melódicas. Pra essa música eu quis passar um pouco da minha fé em Deus, o orgulho de vir de comunidade, de ser preto e também pedir paz para todas as favelas do Brasil.


Você é cria do Morro do Salgueiro. Ano após ano, a gente só vê a situação se deteriorando por lá. Como você vê isso tudo?

Uma situação caótica e que infelizmente acontece em todas as comunidades! Isso me entristece bastante, e torço para que a paz prevaleça. O povo do Salgueiro é trabalhador e não merece passar por isso tudo.

Na música, mesmo que de leve, você fala da questão do racismo. Você ainda sente isso na pele, mesmo sendo famoso?

É impossível preto não sofrer algum tipo de racismo ou exclusão no Brasil, mesmo sendo famoso. Procuro canalizar minhas forças pra continuar superando as dores e canto por um Brasil mais justo. Nosso país é cruel com o povo preto, mas precisamos buscar forças pra seguir em frente e lutar não só por justiça, mas também por uma vida melhor para os nossos.

O clima de ódio nas redes sociais é generalizado. Mesmo sendo conhecido como um sujeito muito boa-praça, você sofre ataques?

É um tempo complicado, e nas redes sociais acaba sendo uma extensão dessa raiva que o mundo tá cultivando e reverberando, todos somos a próxima vítima em potencial. Já fui atacado, sim, mas não deixo me levar por isso, pois sei que tem muita gente que me ama como pessoa e como artista.

Ainda usa o dicionário para compor?

Sim, utilizo um pouco menos, mas ainda gosto de usar para esclarecer alguma construção de frases ou emprego das palavras. O dicionário é uma ferramenta incrível que recomendo para despertar a criatividade e melhorar as letras dos compositores.

Como é sua situação financeira hoje em dia? A gente vê a nova geração do funk se dando bem muito rápido. Na sua época era muito mais puxado, né?

Estou vivendo bem! A internet e as plataformas digitais permitem uma forma de arrecadação que transforma as vidas dos artistas dessa geração nova, acho muito bom que eles estão conseguindo ganhar dinheiro honestamente e que venham muitos outros de comunidade também!

Por falar em nova geração, quem são os caras e as minas que fazem sua cabeça?

Nossa, tem tanta gente boa por aí! É legal também que a molecada está explorando vários ritmos e conquistando espaço em todos os segmentes. De qualquer forma vou dizer alguns aqui. Curto muito Luccas Carlos, Xamã, Filipe Ret, Orochi, Delacruz, Banda Mahi, Wc no Bbeat, PK, Paulinho da Capital, Marks, Iza Guerra, Gloria Groove, MC mMnor e outros …

Quais são os projetos para este ano?

Ainda não está definido, mas penso em fazer um projeto audiovisual mesclando músicas novas e as clássicas, continuar fazendo shows, rodar o Brasil pra divulgar o filme da dupla C&B e produzir o álbum novo dos meus filhos, Ceejay e Giulie. Meu momento pai coruja (risos).

Em 13 de julho a morte do Claudinho completa 20 anos. A data vai ser muito marcante pra você?

Todo ano essa data é marcante. Nem parece que tem tanto tempo, porque lembro como se fosse ontem. Claudinho foi como um irmão pra mim, e nossa história vai ser lembrada pra sempre, graças a Deus.

Você pensa em fazer algum show tributo?

Não tenho nada em especial em mente, mas todo show meu é uma espécie de tributo a ele também. Foi com ele que aparecemos como artistas e conquistamos o Brasil.


Por EXTRA

Redação Rádio domm